sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Muito Além de Uma Doença


As péssimas condições de vida, desemprego, ausêcia da mãe, drogas, a internet são alguns dos problemas que podem incentivar a pedofilia

Foto: sxc
Um veículo de comunicação relata que uma criança foi abusada sexualmente por um parente próximo durante cinco anos seguidos. E que a vítima era coagida pelo agressor a não contar a ninguém. E lhe era ensinado que o que estava fazendo era ‘certo’, até que um dia é informada que não é, e ela denuncia o abusador.
Denúncias como estas tornam-se cada vez mais comuns. E muitas pessoas que acreditam não estarem próximas a esta realidade preferem fingir que o assunto não existe. Mas os  alertas são das pessoas que trabalham diretamente com as vítimas, a exemplo da presidente do Fórum de Direitos da Criança e do Adolescente, Lídia Rêgo, “apesar do maior número de abuso sexual ocorrer em famílias de baixa renda, a pedofilia não está presente somente nesta classe social”.
Ela explica que os casos de pedofilia sempre existiram e que esta situação não é nova, mas a internet veio facilitar a operacionalização desta prática. “Foi mais um mecanismo para se conseguir explorar crianças e adolescentes”.
Internet
A internet traz um problema recente, mas os problemas sociais são o grande motivo de incidentes como estes. De acordo com Lídia, algumas gerações de famílias sofreram e ainda sofrem com esta realidade. E o processo de revitimização é comum, mas, mesmo assim ainda existe um ‘complô’ da sociedade para punir a família da vítima, como se existisse somente um culpado.
Lídia ressalta que a família que passa por um trauma como este já foi penalizada e não necessita de mais um castigo. Ela questiona a qualidade de vida destas famílias e as informações que recebem. “O que oferecemos para estas famílias? Oferecemos a elas um programa educativo? Que programa de TV que elas têm acesso? Novelas que ensinam as crianças a se vestirem ou se comportarem como adultos. Ou jornais com linguagens que não são acessíveis para a maioria. Infelizmente temos oferecido muito pouco a essas famílias para cobrar que elas dêem algo a mais às suas crianças”, pondera.
Sem apoio
Da mesma opinião, a delegada Mariana Diniz, do Centro de Atendimento aos Grupos Vulneráveis (CAGV), explica que o problema do abuso sexual contra crianças e adolescentes é amplo e envolve a estrutura familiar, além dos problemas sociais, a exemplo das drogas e da questão econômica.
Ela comenta que muitas mães não escutam os filhos e até mesmo não acreditam no que eles dizem, alegando que o fato relatado é fruto da imaginação das crianças.  Mariana enfatiza que muitas vezes a criança ainda se sente culpada por ter gerado aquela situação.
“A maior dor para a criança não é somente o abuso, mas sentir que não tem apoio. Porque ela se sente enganada pelo pai e não é ouvida pela mãe. E a nossa preocupação é deixar essa criança ou adolescente ciente que ela é a vítima e não tem culpa de nada”, diz a delegada.

Delegada Mariana fala dos abusadores
Poucas denúncias
O conselheiro tutelar, Jerônimo da Silva Sérgio, explica que o número de denúncias é pequeno e que a maioria delas acontece por parentes próximos ou vizinhos. De acordo com ele, dificilmente a mãe tem tempo ou está em casa para presenciar ou suspeitar do fato. “E também existem aquelas mães que não querem acreditar ou não querem perder seus companheiros”, diz.
Quando a denúncia parte de uma pessoa próxima à família, a mãe é chamada e informada do que vem acontecendo. “Quando a mãe acredita, ótimo. Esta mulher não irá querer o marido dentro de casa e ela mesma defende sua filha até que tudo seja esclarecido e o processo dê andamento. Mas quando a mulher não acredita no filho, temos que procurar meios de tirar a criança de casa. E a criança é revitimizada: pelo abuso e por ter que ficar longe dos seus, de sua casa, escola”, enfatiza.
Lídia Rego lembra que criança e família é revitimada
Jerônimo lembra que os problemas dessas famílias são inúmeros e que eles também refletem no dia-a-dia. “O poder econômico, a instrução, o desemprego, as drogas são alguns dos problemas que podem incentivar a pedofilia", acrescenta.

Penitenciária não resolve
Tanto Lídia, como Mariana e Jerônimo concordam que a penitenciária não é o melhor lugar para o abusador. Defendem que ele deve ser sentenciado pelos seus atos, mas que também deveria receber um tratamento especializado.
“O programa dos Centros de Referência Especializada de Assistência Social (Creas) é um projeto para atender toda a família. Não é uma penitenciária que vai resolver, mas, neste caso, pode até piorar. Porque, se formos a fundo: uma vítima de abusador, amanhã pode vir a ser um agressor. Ele precisa ser tratado, precisamos acabar com este ciclo”, diz Mariana.
Lídia lembra que a nossa Constituição garante ao agressor a penalidade na medida certa, pois se trata de um crime. A lei também garante ao agressor uma atenção básica, para que ele não volte a praticar abusos novamente. “A lei garante um tratamento, mas, na prática, ele não existe”, enfatiza.

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